Wall Street está virando as costas para Trump e soando alerta econômico

Tarifas que entram e saem, demissões em massa no governo, cortes de verbas e repressão à imigração assustaram Wall Street, que está rejeitando a agenda econômica do Presidente dos EUA Donald Trump.

O mercado, que abraçou Trump durante a maior parte de seu primeiro mandato e no período que antecedeu o segundo, voltou-se contra o presidente. O S&P 500 fechou em território de correção na quinta-feira (13), caindo 10% em relação ao recorde histórico estabelecido há apenas três semanas.

O Dow Jones também está se aproximando da correção. O Nasdaq, de alta tecnologia, caiu em uma correção há mais de uma semana.

E o Russell 2000, composto por empresas de menor porte, normalmente mais expostas a mudanças nos ventos econômicos, caiu impressionantes 18,4% em relação à alta atingida logo após a eleição, estando a um passo de seu recorde histórico.

Mesmo com a recuperação das ações na sexta-feira (13) — o Dow subiu 600 pontos, ou 1,4% ; o S&P 500 teve alta de 1,9% e o Nasdaq subiu 2,4% — o sentimento em Wall Street tem sido negativo, e as ações ainda estão sujeitas a perdas nesta semana. O Índice de Medo e Ganância da CNN caiu para “Medo Extremo”.

“O mercado de ações está perdendo sua confiança nas políticas de Trump 2.0”, disse Ed Yardeni, presidente da Yardeni Research.

Em vez disso, os investidores destinaram dinheiro a portos seguros tradicionais, como títulos públicos e ouro. Os rendimentos do Tesouro, que são negociados na direção oposta aos preços, caíram no último mês. Além disso, os preços do ouro à vista na sexta-feira (14) atingiram US$ 3.000 por onça troy pela primeira vez na história.

Os investidores estão cada vez mais preocupados com o fato de que as políticas de Trump possam causar sérios danos à economia norte-americana.

Apesar da insistência de Trump em dizer que as ações estão caindo por causa dos problemas inflacionários herdados do ex-presidente Joe Biden, o mercado havia disparado após a eleição de Trump em novembro, na esperança de que seus prometidos cortes de impostos e a desregulamentação pudessem alimentar outro boom econômico.

Mas Trump, nos meses anteriores à sua posse, começou a ameaçar com tarifas maciças sobre os maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos. O Dow, que estava perto de seu recorde de alta quando Trump começou a postar mensagens no Truth Social sobre tarifas em 25 de novembro, atingiu mais um recorde de alta uma semana depois, mas caiu quase 10% desde então. O Russell 2000 nunca se recuperou.

O aumento do ouro é um dos vários sinais de que os investidores estão preocupados com as perspectivas econômicas dos EUA, disse o ex-secretário do Tesouro Larry Summers à CNN Internacional na sexta-feira (15).

“É um sinal da quantidade de incerteza criada que, em meio a tudo isso, o ativo que se destacou foi o ouro”, disse Summers. “É isso que as pessoas fazem quando não têm confiança nas pessoas que estão administrando o país”, acrescentou.

Enquanto isso, os problemas estão aumentando para a economia, e as políticas de Trump podem aumentá-los. Na sexta-feira (14), um relatório da Universidade de Michigan sobre o sentimento do consumidor caiu para seu nível mais baixo desde o auge da crise inflacionária em 2022. 

A confiança do consumidor em fevereiro registrou seu maior declínio mensal desde agosto de 2021 e teve a maior queda nos dois primeiros meses de qualquer ano desde 2009, de acordo com o Índice de Confiança do Consumidor do Conference Board.

Os consumidores não estão gastando tanto quanto antes, pois as preocupações com a economia pesam em suas decisões de compra. Empresas estadunidenses como Target, Walmart, Delta Air Lines, Dick’s Sporting Goods, Dollar General e Kohl’s disseram em seus relatórios de lucros mais recentes que as tarifas e a inflação estão levando as pessoas a gastar menos.

“Este mercado está claramente farto e cansado das idas e vindas da política comercial”, disse Art Hogan, estrategista-chefe de mercado da B. Riley Wealth Management. “Parece que o governo continua a mudar as regras do jogo. Com tanta incerteza, é impossível para os investidores terem alguma confiança.”

Trump reconheceu que as tarifas poderiam causar um “distúrbio” e se recusou a descartar uma recessão, dizendo que seu plano econômico poderia ser doloroso para alguns no início.

Os principais economistas, no entanto, acreditam que Trump pode estar subestimando os danos que suas políticas podem causar. A incerteza sobre as tarifas está paralisando as empresas, que não têm certeza se devem contratar e investir. As demissões em massa de funcionários federais podem prejudicar seriamente as economias locais. E as medidas de repressão à imigração podem prejudicar seriamente os setores de saúde, construção e agricultura, que já sofrem com a falta de mão de obra.

Os economistas do JPMorgan escreveram de forma alarmante na semana passada que a economia dos EUA tem agora 40% de chance de entrar em recessão este ano. Isso é mais do que os 30% previstos pelo JPMorgan no início do ano.

O banco citou uma “postura menos favorável aos negócios” da política dos EUA, incluindo uma guerra comercial mais agressiva do que se temia, bem como “esforços agressivos” do Departamento de Eficiência Governamental, de Elon Musk, para cortar contratações e gastos federais.

“Vemos um risco significativo de que os EUA entrem em recessão este ano devido às políticas extremas do país”, escreveram os economistas do JPMorgan em uma nota aos clientes na última sexta-feira (14).

Ignorando repentinamente o mercado

Trump tem se mantido visivelmente calado em relação às ações ultimamente. Durante seu primeiro mandato, ele publicava regularmente no Twitter sobre os recordes do mercado como um sinal do poder econômico dos Estados Unidos.

Ao visitar a Bolsa de Valores de Nova York em 12 de dezembro, Trump chamou o mercado de ações de “muito importante” em uma entrevista à CNBC norte-americana.

“O mercado de ações é muito importante – tudo isso, sabe tudo isso junto, é muito importante”, disse Trump. “Eu meio que brinquei dizendo que , na verdade , comprei o prédio do outro lado da rua porque a bolsa de valores estava aqui. É um grande negócio.”

Mas ele mudou de opinião, pois as ações primeiro apagaram seus ganhos pós-inauguração e depois seus ganhos pós-eleitorais.

“Não se deve realmente observar o mercado de ações”, disse Trump no domingo (9) em uma entrevista à Fox.

“Os mercados vão subir e vão cair”, disse ele no Salão Oval na terça-feira (11).

“Acho que grande parte da queda do mercado de ações se deveu aos quatro anos realmente ruins que tivemos, quando se analisa a inflação e todos os outros problemas — quero dizer, guerras e inflação e tantos outros problemas”, disse Trump na quarta-feira (12) na Casa Branca.

Mas Wall Street não gosta de ser ignorada — ela está tentando enviar uma mensagem ao presidente estadunidense. E é uma mensagem dolorosa.

Mercados em queda podem representar um problema por si só. Ver os mercados no vermelho pode minar a confiança dos consumidores, porque muitos norte-americanos acreditam incorretamente que o Dow Jones serve como um indicador da saúde da economia dos EUA. Porém, muitas pessoas também dependem de ações para seus fundos de aposentadoria, e ver as ações afundarem drasticamente pode levá-las a ter dúvidas sobre sua posição financeira.

“Obviamente, o mercado de ações pode ter um efeito negativo significativo sobre o patrimônio se continuar a cair”, disse Yardeni. “Trump terá de repensar sua noção de que não há problema em deixar o mercado cair enquanto ele faz experiências com tarifas e reduz a folha de pagamento federal.”

Os investidores acham que Trump lhes deu as costas. Agora, eles estão lhe dando as costas.

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