Iguanas viajaram 8.000 km até Fiji em jangadas de vegetação, diz estudo

Há cerca de 34 milhões de anos, os ancestrais das iguanas modernas provavelmente realizaram a mais longa travessia oceânica já feita por um vertebrado terrestre não humano.

Partindo da costa oeste da América do Norte, essas iguanas percorreram quase 8.000 km — o equivalente a um quinto da circunferência da Terra — pelo Oceano Pacífico, chegando finalmente a Fiji, segundo um novo estudo.

Com base em evidências genéticas, pesquisadores sugerem que essas iguanas fizeram a incrível jornada flutuando em jangadas naturais de vegetação, possivelmente compostas de árvores ou plantas arrancadas.

Por décadas, cientistas debateram como as iguanas chegaram a Fiji. Teorias anteriores sugeriam que uma espécie extinta de iguana teria atravessado o oceano em jangadas naturais vindas das Américas, sem um período definido, enquanto outras hipóteses propunham que os lagartos migraram por terra a partir da Ásia ou Austrália, explicou o autor principal do estudo, Dr. Simon Scarpetta, professor assistente da Universidade de San Francisco.

Scarpetta conduziu essa pesquisa durante sua bolsa de pós-doutorado da National Science Foundation na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e em sua posição atual.

Os resultados, publicados na segunda-feira no jornal Proceedings of the National Academy of Sciences, ajudam a esclarecer o antigo mistério de como esses répteis chegaram a ilhas tão remotas.

Scarpetta e sua equipe buscaram testar tanto a teoria da travessia oceânica em jangadas quanto a migração terrestre, além de outras hipóteses sobre a origem biogeográfica das iguanas de Fiji, incluindo a dispersão via Antártica ou pela ponte de terra de Bering. Scarpetta destacou que compreender esse tipo de dispersão sobre a água pode oferecer novas perspectivas sobre como outras espécies colonizaram áreas isoladas ao longo do tempo.

Rastreando a genética

As iguanas já demonstraram a capacidade de sobreviver a longas viagens oceânicas. Um estudo de outubro de 1998 registrou que, em 1995, pelo menos 15 iguanas-verdes chegaram às praias de Anguilla, no Caribe, em jangadas de árvores arrancadas. Pesquisadores concluíram que os lagartos provavelmente flutuaram cerca de 322 km desde Guadalupe após um furacão.

Scarpetta explicou que esse tipo de dispersão oceânica é frequentemente chamado de “dispersão por sorteio” (sweepstakes), um evento raro que permite a colonização de áreas inacessíveis. Grandes fenômenos climáticos, como furacões ou enchentes, podem desprender vegetação e transportar animais junto com ela.

Para determinar quando as iguanas chegaram a Fiji, os pesquisadores analisaram os genes de 14 espécies vivas. O estudo revelou que o parente vivo mais próximo das iguanas de Fiji é o Dipsosaurus, um tipo de iguana do deserto nativa do sudoeste dos Estados Unidos e do noroeste do México.

Evidências fósseis reforçam a hipótese de que essas iguanas se originaram na América do Norte, já que não foram encontrados fósseis de iguanas do deserto em nenhuma outra parte do mundo.

A análise também sugere que as iguanas fijianas se separaram de seus ancestrais americanos entre 34 e 30 milhões de anos atrás, período que coincide com a formação vulcânica do arquipélago de Fiji, segundo Scarpetta.

Essa linha do tempo desafia teorias anteriores que sugeriam que as iguanas poderiam ter feito uma complexa jornada terrestre da América do Sul via Antártica, o que teria ocorrido muito mais tarde na história, explicou o coautor do estudo, Dr. Jimmy McGuire, professor de biologia integrativa na Universidade da Califórnia, Berkeley.

“Nas análises filogenéticas, sempre há um certo grau de incerteza ao tentar prever o momento da divergência entre espécies”, afirmou o Dr. Shane Campbell-Staton, professor associado de ecologia e biologia evolutiva da Universidade de Princeton, que não participou do estudo. “Neste caso, os autores foram extremamente minuciosos, coletando diferentes tipos de dados genéticos e utilizando múltiplos modelos para testar sua hipótese, encontrando resultados amplamente concordantes.”

Como essa jornada foi possível?

Embora uma travessia de meses pelo Pacífico pareça impossível, as iguanas possuem características surpreendentes que as tornam bem preparadas para viagens extremas.

“Se tivéssemos que escolher um grupo de vertebrados capaz de sobreviver a uma jornada de milhares de quilômetros sobre o oceano em uma jangada natural, as iguanas seriam uma excelente opção”, disse Scarpetta.

Muitas espécies de iguanas, especialmente as que vivem em ambientes desérticos, são altamente resistentes ao calor extremo, à fome e à desidratação, acrescentou.

“Por serem ectotérmicas, elas não gastam muitos recursos alimentares ou reservas de gordura para manter uma temperatura corporal elevada”, explicou McGuire. “Ectotérmicos podem ser cerca de 25 vezes mais eficientes nesse aspecto do que endotérmicos (animais de sangue quente), o que significa que precisam se alimentar com muito menos frequência.”

Algumas estimativas sugerem que a travessia oceânica da América do Norte até Fiji poderia ter durado de quatro a 12 meses. No entanto, simulações mais recentes indicam que a viagem pode ter sido mais curta, entre dois meses e meio e quatro meses, afirmou Scarpetta.

Apesar dos desafios básicos de sobrevivência, a escassez de alimento provavelmente não foi um grande obstáculo. Caso necessário, esses répteis herbívoros poderiam ter se alimentado da própria vegetação das jangadas flutuantes, explicou McGuire.

Os cientistas esperam que, ao estudar eventos de dispersão, possam prever quais espécies têm capacidade de sobreviver a viagens oceânicas de longa distância, oferecendo novas perspectivas sobre como os animais se espalharam pelo planeta.

“Agora sabemos que a dispersão sobre a água não é apenas possível, mas provavelmente desempenhou um papel crucial na diversificação das espécies em ilhas ao redor do mundo”, disse Campbell-Staton por e-mail.

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