Israel manterá presença “permanente“ em Gaza se reféns não forem libertados
O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, alertou o Hamas que Israel manterá uma presença permanente em partes da Faixa de Gaza caso os reféns não sejam libertados. A declaração vem a medida que Israel intensifica uma nova ofensiva no enclave.
A trégua na guerra foi interrompida na terça-feira quando o governo israelense bombardeou Gaza, quebrando dois meses de cessar-fogo que permitiram a soltura de reféns em troca de prisioneiros palestinos.
Katz disse sexta-feira (21) que ele tinha instruído o Exército israelense “para capturar áreas adicionais em Gaza, enviando ordens de retirada a população, e expandir as zonas de segurança ao redor de Gaza, a fim de proteger as comunidades israelenses e soldados através da manutenção permanente do território por Israel.”
“Quanto mais o Hamas se recusa em libertar os sequestrados, mais território perderá para Israel”, acrescentou. Não estava claro se Katz quis dizer que haverá uma ocupação indefinida de partes de Gaza.
Os comentários de Katz vêm depois que o Hamas disse que estava em contato com mediadores para tentar restabelecer o cessar-fogo que estava em vigor entre 19 de janeiro e terça-feira.
Katz disse que Israel aderiu à proposta do enviado do presidente dos EUA, Donald Trump, para o Oriente Médio, Steve Witkoff, de libertar todos os reféns, vivos e mortos, “com antecedência e em duas etapas com um cessar-fogo no meio – sem pôr em perigo os interesses de segurança israelenses.”
Enquanto isso, Israel intensificaria os ataques do ar, mar e terra, e “meios civis de pressão” seriam adotados juntamente com a pressão militar, “incluindo o deslocamento da população de Gaza para o sul e a implementação do plano de transferência voluntária do presidente Trump para os residentes de Gaza.”
O Hamas, enquanto isso, diz que está considerando o mais recente plano de cessar-fogo dos EUA para Gaza e permanece “totalmente envolvido” no processo de mediação.
Em uma declaração na sexta-feira, o Hamas disse que estava deliberando sobre uma proposta de Witkoff, que sugeriu estender a primeira fase do acordo de cessar-fogo até o início de abril. O grupo reiterou a demanda por um fim permanente da guerra, dizendo que estava explorando “várias ideias sobre a mesa de uma maneira que visa alcançar um acordo de troca de prisioneiros que garanta a libertação dos detidos, encerre a guerra e garanta uma retirada.”
A proposta de Witkoff na semana passada teria garantido a libertação de um punhado de reféns vivos mantidos pelo Hamas em troca da extensão do cessar-fogo entre Israel e o Hamas, informou a CNN. Dos 59 reféns ainda detidos em Gaza, acredita-se que menos da metade ainda esteja viva.
Witkoff propôs que a prorrogação do cessar-fogo se estendesse até o final da Páscoa, estendendo a pausa nos combates e renovando a entrada de ajuda humanitária através do mês sagrado muçulmano do Ramadã e do feriado judaico.
O Hamas insistiu em manter um cronograma previamente acordado com Israel e os EUA que moveria as partes em conflito para uma segunda fase da trégua, na qual Israel se comprometeria a terminar a guerra. Mas Israel se recusou, dizendo que quer estender a primeira fase.
Khaled Meshaal, um alto funcionário do Hamas, na quinta-feira acusou Israel de usar o plano Witkoff para “chantagear o Hamas a recuperar os (reféns) da primeira fase do acordo sem se comprometer com as obrigações da segunda fase, que incluem uma trégua duradoura e a retirada completa do Exército israelense da Faixa de Gaza.”
Os ataques israelenses mataram mais de 500 pessoas e feriram quase mil em Gaza desde que os combates retomaram, segundo o Ministério da Saúde do enclave. O Hamas disparou foguetes contra Israel na quinta-feira pela primeira vez desde que a trégua foi quebrada, mas nenhuma vítima foi relatada.
Pelo menos nove membros do Hamas, incluindo altos funcionários do grupo, estão entre os mortos, de acordo com as Forças de Defesa de Israel (FDI). Os mortos incluem Essam al-Dalis, o chefe do governo do Hamas em Gaza; Mahmoud Abu-Watfa, o ministro do interior; e Ahmed Al-Hatta, o ministro da justiça, de acordo com as FDI.
Após o lançamento de foguetes na sexta-feira, as FDI ordenaram a retirada da população de bairros no noroeste de Gaza, como “um aviso prévio antes de um ataque. As organizações terroristas estão retornando e disparando foguetes de áreas povoadas”, disse o Exército.
O UNICEF disse que o número de crianças mortas na quarta-feira marcou “um dos maiores números de mortes de crianças em um único dia no ano passado.”
O Exército israelense disse nesta quinta-feira que iniciou uma operação terrestre na cidade de Rafah, no sul de Gaza. O município da cidade informou na sexta-feira que mais de 100 civis foram mortos durante os bombardeios – a maioria delas crianças e mulheres. Disse ainda que os moradores estavam sendo forçados a sair ao ar livre, sem abrigo ou comida.
O Egito, um dos principais mediadores no conflito, deu uma avaliação sombria da possibilidade de novas negociações.
Perguntado pela CNN se Israel parece estar disposto a voltar à mesa de negociações, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores egípcio Tamim Khallaf disse: “Não e eu acho que é uma política isolacionista e funciona diametralmente oposta ao que a comunidade global gostaria de ver: um fim a esta guerra.”
O Egito não tinha nenhuma indicação de que Israel iria violar o cessar-fogo em Gaza quando os negociadores israelenses estavam no Cairo no domingo, apenas dois dias antes dos israelenses realizarem ataques, disse Khallaf a Becky Anderson da CNN em uma entrevista na quinta-feira.
“Não temos recebido essas indicações. Estávamos envolvidos em negociações de cessar-fogo, a fim de avançar com a fase dois e fase três”, disse ele, chamando o retorno de Israel à guerra uma “violação flagrante” do acordo de cessar-fogo “que irá desencadear efeitos de cascata.”
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