Unidas sofre com seminovos mas vê espaço para aumento da diária

A Unidas reportou um trimestre de crescimento, mas o bottom line foi pressionado pela queda nos preços e a depreciação dos seminovos. 

Apesar de um prejuízo de R$ 5 milhões no quarto tri, a locadora fez um lucro de R$ 110 milhões no ano – 18% abaixo do ano anterior. 

O motivo principal: um prejuízo de R$ 61 milhões na operação de seminovos.

“O mercado foi afetado por uma depreciação não esperada porque o preço dos seminovos, especialmente no primeiro semestre, caiu muito mais do que imaginávamos,” o CEO Cláudio Zattar disse ao Brazil Journal. ”Mas já começamos a ver uma recuperação dos preços em 2025.”

Em um ano, a depreciação média dos veículos da Unidas saiu de R$ 6,9 mil para R$ 9,2 mil nos leves e de R$ 20,7 mil para R$ 26,5 mil nos pesados.

A terceira maior locadora do País, que é controlada pela Brookfield, fez uma receita líquida de R$ 1,7 bilhão no quarto tri, uma alta de 12,1% em relação ao mesmo período do ano passado.

Em 2024 como um todo, a Unidas cresceu 22,3% ano contra ano, chegando a uma receita líquida de R$ 6,7 bilhões. 

Entre os três segmentos em que a Unidas atua, dois tiveram crescimento no trimestre: a venda de veículos subiu 13,4% e a gestão de frotas cresceu 30%. 

Mas o aluguel de veículos teve queda de 4%. Zattar disse que isso aconteceu porque a empresa decidiu diminuir o aluguel de veículos para motoristas de aplicativo – que têm rentabilidade menor frente aos outros tipos de locação.

“Diminuímos o total da frota para motoristas de aplicativo de 12% para menos de 2%. É um mercado difícil, pois o carro roda muito e é difícil cobrar avaria do motorista,” disse. 

Além disso, a empresa tomou outras medidas para melhorar a rentabilidade, como a diminuição de compras de novos veículos – a Unidas encerrou o ano com uma frota de 120 mil carros, alta de 1,9% em relação a 2023 –, um aumento do monitoramento da frota e uma melhor gestão operacional.

Com isso, a empresa apresentou um crescimento anual de 18,8% no EBITDA no quarto tri, atingindo R$ 628 milhões, e de 27,4% no acumulado do ano, chegando a R$ 2,3 bilhões. A margem EBITDA subiu 4,2 pontos no trimestre para 65,4%, e 2,5 pontos no ano, alcançando 63,3%.

A maior depreciação dos veículos fez o ROIC cair de 14,5% no quarto tri de 2023 para 12,2% em dezembro. Como consequência, o ROIC menos o custo da dívida após impostos – uma métrica que indica se a empresa cria ou destrói valor ao financiar seu crescimento com dívida – ficou em 3,6%, o menor nível do ano.

A alavancagem, por sua vez, teve uma pequena redução de 3,6x para 3,5x em um ano. Zattar disse que a empresa trabalha para baixar o indicador nos próximos trimestres, mas que “estamos em um nível confortável com os nossos covenants de 4,25x.” 

O CEO disse que a empresa ainda tem “mato alto” para melhorar sua rentabilidade, especialmente na gestão operacional da frota, e que também vê espaço para novos aumentos de preços. A diária média por carro da Unidas subiu de R$ 134,80 para R$ 145,50 em um ano. 

Outra aposta é no crescimento da Unidas Livre, o seu braço de carros por assinatura. Hoje a Unidas possui 5,2 mil assinantes, e Zattar prevê dobrar a operação neste ano. 

“É um segmento que possui o segundo maior ROIC de todos os nossos negócios, atrás apenas da locação de pesados,” disse. 

Ao mesmo tempo, o executivo não enxerga espaço para uma grande compra de veículos nos próximos dois anos, apesar da idade média da frota ter passado de 11,6 meses para 13,1 meses em um ano. Antes da pandemia, esse número era próximo de 7,5 meses.

“Dá para voltarmos em algum momento para o patamar anterior, mas não é algo que vai acontecer em meses, ainda mais com o atual patamar dos juros,” disse.

Depois de quase seis anos no comando da empresa – contando o tempo na chefia da Ouro Verde, que comprou ativos da antiga Unidas no fim de 2022 – Zattar deixará o cargo em abril, permanecendo na empresa como vice-chairman. O CFO Carlos Moreira assumirá como o novo CEO.

“Eu tinha um acordo de cinco anos com a Brookfield e até estendemos um pouco esse tempo, mas agora escolhemos um prata da casa para esse ciclo rumo ao IPO, que deve ocorrer em 2027,” disse o executivo. 




André Jankavski




Publicar comentário