Empresas passaram a adotar home office como modelo permanente após Covid-19

No início da pandemia de Covid-19 em 2020, o trabalho remoto parecia uma solução temporária. Mas hoje está claro que o modelo híbrido veio para ficar.

Metade dos americanos têm empregos que permitem o trabalho remoto, de acordo com a Gallup, uma empresa de pesquisas de mercado. Dentre eles, o número de pessoas que já trabalhavam em um esquema híbrido antes da pandemia era de 32% e hoje esse número é de 55%. Os trabalhos presenciais caíram de 60% para 19% e os remotos subiram de 8% para 26%.

• Dados: Gallup / Arte: CNN

As mudanças também impactaram o mercado de trabalho no Brasil. 

“Essa aceleração foi muito interessante por democratizar um pouco mais a oferta de trabalho remoto para as pessoas”, afirma Tatiana Di Rienzo, fundadora do site Retomar, que foi criado em 2020 e é específico para vagas remotas.

Marcus Castro, publicitário brasileiro que mora em Nova York, é uma das pessoas que teve a rotina de trabalho alterada. Atualmente, ele trabalha em uma escala híbrida, com três dias presenciais e dois remotos – algo que não era uma opção para o paulistano, de Itaquera, até a pandemia. 

“Antes era impossível você imaginar tantas empresas fazendo esse modelo e hoje é bem comum. Eles entendem que você vai trabalhar, que você vai conseguir entregar o que você precisa entregar e que é só um lugar diferente que você está trabalhando”, destaca Castro.

Com a flexibilidade, o publicitário optou por morar a uma hora do trabalho, para ter mais espaço do que no centro de Nova York.

“Eu gasto um pouco mais de tempo neste trajeto entre trabalho e casa, então esses dias que eu consigo trabalhar de casa, eu consigo compensar e ficar um pouco mais com a minha filha”, pondera Marcus Castro.

Nick Akerman, advogado e ex-procurador de Nova York, compartilha que mesmo após cinco anos da pandemia, ainda hoje realiza parte das audiências online. “Acho que ainda estou contando muito com as reuniões do Zoom e, sempre que posso fazer isso, faço pelo Zoom”, afirma.

Atualmente, seis em cada dez funcionários desejam um formato de trabalho híbrido, segundo a Gallup. Um terço prefere o trabalho remoto e 7% o presencial.

• Dados: Gallup / Arte: CNN

Stephan Meier, professor de gestão da Universidade Columbia, escreveu o livro “A vantagem do funcionário: como colocar os trabalhadores em primeiro lugar ajuda os negócios a prosperar” que aborda as mudanças provocadas pela pandemia no mercado de trabalho. 

“Não precisamos nos deslocar o dia todo. Na verdade, posso pegar meu filho na escola. Posso ir ao dentista com meu filho, por exemplo. E essa flexibilidade é uma parte muito importante daquilo que as pessoas valorizam. Estar acostumado com esta conveniência, eu acho, obviamente, também se reflete na forma como pensamos sobre o local de trabalho e como temos sido tratados como trabalhadores e empregados”, argumenta Meier.

Para o autor, é um caminho sem volta, mesmo com o governo de Donald Trump e big techs, como a Amazon, defendendo o retorno ao trabalho presencial. “Eu não imagino um cenário em que todos voltem ao escritório cinco dias por semana. Simplesmente não faz sentido”, opina.

O novo formato está remodelando o funcionamento de grandes centros urbanos, como Nova York. Prédios empresariais estão sendo transformados em apartamentos.

Enquanto 20% dos imóveis comerciais nos Estados Unidos estão desocupados, um recorde histórico, Nova York vive a pior escassez de moradias em meio século, com uma taxa de vacância para alugueis residenciais de apenas 1,4%, a menor desde 1968. 

• Dados: Moody’s Analytics CRE / Departamento habitacional de NY; Arte: CNN

Para resolver o desequilíbrio, a conversão de imóveis comerciais em residenciais se tornou política pública. Desde dezembro, construtoras que fizerem esse tipo de conversão e oferecerem 25% das unidades por valores acessíveis, garantem uma redução nos impostos.

A medida também reverte restrições antigas. Desde a década de 1920, por lei, as cidades têm bairros separados para trabalho, moradia e lazer. O home office tornou essa divisão irrelevante. Hoje, há mais de 30 projetos de conversão apenas em Nova York.  

• CNN

Para Carlo Ratti, urbanista e professor do instituto tecnológico de Massachusetts, o MIT, se as pessoas não precisam mais ir ao centro da cidade para trabalhar, os centros urbanos devem se transformar em um lugar para viver e lazer.

“Acreditamos que este é realmente o começo de uma nova forma de pensar sobre como as cidades ainda podem desempenhar a sua função regional de nos unir, de fazer coisas juntos, mas provavelmente de uma forma diferente, de uma forma mais flexível, de uma forma que, na verdade, parte de uma maneira diferente de viver e trabalhar”, analisa.

Uma empresa americana leva pelo menos cinco anos para construir um prédio do zero. Mas se o objetivo for apenas transformar o que ele tem por dentro, o tempo pode ser reduzido em quase cinco vezes. 

Para ver como funciona a transformação que está acontecendo, a repórter da CNN Brasil Priscila Yazbek visitou um empreendimento que está sendo convertido de escritório para apartamento no centro financeiro de Nova York.
Para ver como funciona a transformação que está acontecendo, a repórter da CNN Brasil Priscila Yazbek visitou um empreendimento que está sendo convertido de escritório para apartamento no centro financeiro de Nova York. • CNN

“A partir da data em que fechamos o contrato de construção, tivemos inquilinos morando no prédio 14 meses depois, o que é impressionante. Se você comparar com uma construção do zero, pode levar seis, sete anos antes mesmo de ser construído”, exemplifica Daniel Berman, vice-presidente da Metro Loft.

A estrutura ampla de uma planta comercial ainda permite incluir áreas de lazer que um imóvel residencial não permitiria.

A mudança nos hábitos das pessoas e no que elas buscam hoje como qualidade de vida provocou uma transformação urbana em uma das cidades mais famosas do planeta e moveu as estruturas do mercado de trabalho da maior economia global – e estas são algumas das consequências mais visíveis de uma pandemia que transformou o mundo.

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